quarta-feira, 18 de setembro de 2013

ANO DA FÉ - UMA IGREJA SENSÍVEL AOS PROBLEMAS HUMANOS

           Fomos convidados a viver o chamado Ano da Fé, como forma de rememorar as orientações do Concílio Vaticano II (1952-1965), que nos convida a ser Igreja de modo a atender às necessidades da realidade de hoje. Muitos sentem que as comunidades católicas ainda não conhecem suficientemente o que foi proposto pelo Concílio há cinqüenta anos. A catequese pode ajudar a sanar essa deficiência, lembrando constantemente frases que iluminam o caminho que o Concílio nos quis mostrar. Se, a cada encontro catequético, se destacasse uma citação de documentos importantes desse evento, poderíamos ir criando inclusive uma curiosidade que capaz de levar os catequizandos adultos a buscar um conhecimento pessoal maior daquilo que a Igreja quis nos comunicar nesses cinqüenta anos.
            Quando penso no Vaticano II, a primeira coisa que me vem à mente e ao coração são as frases iniciais da Constituição Pastoral Gaudium et Spes, sobre a Igreja  e o mundo de hoje. É um documento que começa assim:
            “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração.”
            E o primeiro número desse documento se completa dizendo: “... a comunidade cristã se sente verdadeiramente solidária com o gênero humano e sua história.”
            O Concílio está falando de uma solidariedade total, sem exclusões. Está vendo a Igreja interessada em toda a família humana, não como um grupo que cuida só dos seus. É uma Igreja totalmente a serviço, envolta numa grande comunhão com as necessidades de todos os filhos de Deus. Isso pode não parecer uma declaração especificamente ecumênica, mas combina muito com o próprio significado da palavra “oikoumene”, que significa casa habitada, a casa planetária de todos nós. Se todos os cristãos estiverem de fato solidários diante das alegrias e esperanças, tristezas e angústias de todos os filhos de Deus, vão perceber mais depressa que os discípulos de Cristo precisam estar unidos porque esse é um programa de trabalho missionário que, além de ser amplo demais para cada Igreja realizar sozinha, está acima das nossas diferenças doutrinárias.
            O mesmo documento,  lá pelo número 22, vai falar da luta contra o mal como uma necessidade do cristão que, associado ao mistério pascal, chegará à ressurreição, grande vitória da vida. Mas aí faz questão de acrescentar algo que seria ainda hoje novidade para muitos católicos:
            “Isso vale não somente para os cristãos, mas também para todos os homens de boa vontade em cujos corações a graça opera de modo invisível. Com efeito, tendo Cristo morrido por todos e sendo uma só a vocação última do homem, isto é divina, devemos admitir que o Espírito Santo oferece a todos a possibilidade de se associarem, de modo conhecido por Deus, a esse mistério pascal.”
            Ao comunicar tais afirmações , a catequese estaria ajudando bastante a Igreja a ter uma imagem bem mais atraente para os de fora e mais mobilizadora para a prática da caridade entre os de dentro. Além disso, daria um grande consolo às famílias que têm , entre seus membros mais amados, pessoas que não se identificam como cristãos.
            Alguém poderia dizer: isso não seria um estímulo a deixar tudo como está, sem maiores envolvimentos no trabalho missionário que quer formar novos discípulos de Cristo? Nenhum reconhecimento da presença implícita e ainda não reconhecida da graça de Deus na vida de uma pessoa nos dispensa de oferecer a ela o maior presente que uma pessoa pode acolher: a descoberta desse amor imenso demonstrado pela vida e morte de Jesus, a riqueza da mensagem do evangelho, destinada a nos impulsionar na construção de um mundo novo. Mas olhar para o outro como alguém que já tem em seu coração a graça operando de maneira invisível vai dar um tom diferente ao nosso diálogo com essa pessoa. Isso nos coloca num caminho de acolhimento, sem o qual qualquer anúncio do evangelho tem muita chance de ser mal recebido.
            A catequese formará evangelizadores muito mais convincentes se os educar nesse espírito de sensibilidade para as situações que as pessoas vivem e para essa presença, muitas vezes ainda não percebida, da graça de Deus na vida de quem já está atraído para o bem mas ainda não se identificou como cristão.   
Therezinha Cruz


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